27 novembro 2008

Análise do Texto "O Sensível Olhar Pensante" de Mirian Celeste Martins

Em “O Sensível Olhar-Pensante”, Mirian Celeste Martins aborda como tema principal a questão de como se vê um a obra de arte.
Como ponto de partida, Mirian menciona uma citação de Merleau-Ponty acerca do quadro “A Ronda Noturna” de Rembrandt, colocando-nos como participantes da observação da obra e instigando-nos a buscar pela imagem, ainda que virtual, da mesma. Com isso, propõe questionamentos sobre a forma como apreciamos uma obra de arte.
Em seguida, Mirian, faz um breve relato sobre a necessidade de se repensar o ensino das artes. Questiona, então, algumas teorias da arte e o academicismo, e afirma que é preciso cortar o cordão umbilical desta “fôrma” que faz as pessoas acreditaram que existe uma interpretação única e correta para cada obra. Afirma que o educador tem como missão auxiliar o aluno a ver com emoção, sem deixar de lado a análise, interpretação e reconstrução da obra, partindo do seu próprio ponto-de-vista e aliando, aos poucos, os conhecimentos da história da arte e opinião de teóricos e críticos. Insiste na busca por “desvendar os mistérios” da obra que se está olhando, fragmentá-la, ir a fundo, buscando relações e/ou diferenças com outros conhecimentos já adquiridos.
No decorrer do texto, a educadora fala sobre como o momento específico de vida do espectador interfere na sua interpretação acerca da obra observada.
Diz também que o que guardamos dentro de nós não é o real, mas a sua representação simbólica, que o artista representa aquilo que lhe é mais significante. E fala ainda que, assim como um artista pode representar uma mesma “coisa” de diversas formas, uma mesma obra pode ter infinitas interpretações.
Mirian, ao usar a expressão “olhar o olhar do outro”, instrui seus leitores também a como ler (e como ensinar a ler) os escritos de teóricos, historiadores e críticos. Que quando se lê algo sobre uma obra de arte, é preciso lembrar que aquilo está refletindo o olhar do autor, ou seja, quem a criou, e o olhar de quem a viu, o comentarista, e gerará ainda uma interpretação desta terceira pessoa sobre as duas partes anteriores, pois a leitura é uma tradução pessoal.
A professora apresenta em seu texto colocações de Pareyson em que ele diz que a degustação sensível e estética, dá-se através de um processo de contemplação que, apesar de requerer um estado de quietude e calma, é visto com uma atividade intensa e operosa. E diz que, para ele, ler significa executar, e que essa execução se dá em três aspectos distintos: a decifração, onde o observador, ou fruidor, olha, investiga, cria perspectivas, dá valores; a mediação, onde há alguém que sugere um determinado ponto-de-vista; e a realização, onde, então, o fruidor, reconstrói a obra, fazendo-a viver a sua própria vida.
Quando Mirian fala da multiplicidade de leituras, ela deixa claro que é importante que se esteja aberto para “olhar” uma obra de arte, pois se a visão/interpretação depende do “momento” do espectador, esta pode mudar conforme mude seu “momento”.
Mirian fala ainda sobre a avaliação da obra, que faz parte do processo desde o primeiro olhar. Para explicar de forma sintética essa avaliação, podemos dizer que ela é uma soma do gosto, que é pessoal, com o juízo de valor, que é universal.
Quando trata da “pedagogia do olhar”, Mirian fala da necessidade de se exercitar o olhar dos alunos, orientando-os, mas sem limitar essa visão, sem poda-los, instigando, desafiando e incentivando sempre.
Vejo na conclusão desse texto uma espécie de expectativa da autora nesta nova geração de educadores, agora acrescidos do conhecimento que ela transmite. E acredito nisto veementemente. Não sei se a turma compartilha do mesmo sentimento, mas eu, em particular, e, talvez, seja uma visão até meio romântica do ensino de artes no Brasil no contexto atual, mas ainda assim, prefiro acreditar que farei a diferença.
Bianca Foching

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